Guerra aos piolhos

Guerra aos piolhos

Vira e mexe um leitor nos pergunta o que fazer para eliminar os temidos piolhos. Esses inoportunos insetos, que vivem passeando pelos nossos cabelos, adoram picar nosso couro cabeludo e sugar nosso sangue – é assim que eles sobrevivem.

Quando uma pessoa está com piolhos, ela está com uma doença parasitária que os cientistas chamam de pediculose. “É um problema muito mais comum do que você imagina”, disse à CHC o biólogo Júlio Vianna Barbosa, da Fundação Oswaldo Cruz. “De cada dez crianças, provavelmente três ou quatro terão piolho.” Segundo o pesquisador, esses pequeninos sugadores de sangue são mais comuns na criançada em idade escolar – isto é, de quatro a 12 anos. Em adultos, o problema é mais raro.

Ao contrário do que muitos pensam, a pediculose não é relacionada à falta de higiene ou às condições sociais de famílias de baixa renda. “Nada disso”, esclarece o Júlio. “É um problema de saúde pública que independe de classe social.”

Fique atento: a coceira é o principal sintoma da pediculose. Mas cuidado, pois a situação pode ficar mais complicada. A bióloga Raquel Borges Moroni, da Universidade Federal de Uberlândia, explica: “Além da irritação no couro cabeludo, a pediculose pode causar infecções por bactérias e fungos, atrapalhar o sono e também o rendimento na escola; mas o pior é que, se uma pessoa com muito piolho tiver uma alimentação deficiente, poderá ficar fraca e anêmica”.

Tome nota, então, do que devemos fazer quando estamos com a cabeça infestada de piolhos. “O melhor remédio é uma técnica que nossas vovós já conheciam – o pente fino, de preferência de aço”, garante Júlio. Se adquirirmos o hábito de pentear os cabelos diariamente com ele, poderemos facilmente dar um fim nesses bichinhos nada bem-vindos que incomodam nossas cabeças.

Algumas pessoas preparam receitas caseiras, como infusões com ervas diversas. “Podem até parecer funcionar, mas ainda não existe comprovação científica que nos mostre a eficiência dessas soluções”, completa o pesquisador.

Há também quem aplique produtos químicos, como creolina ou outros inseticidas. Que perigo! “Esses compostos jamais devem ser usados”, alerta Júlio, pois são tóxicos e podem prejudicar nossa saúde. Existem ainda alguns remédios específicos, que podem ser receitados pelos médicos.

Tão importante quanto se tratar é tomar cuidado para não transmitir a pediculose para outras pessoas. A forma mais comum de transmissão é o contato direto, como compartilhar fivelas e presilhas de cabelo, bonés, escovas, travesseiros, capacetes… Mesmo num abraço os piolhos podem escapulir de uma cabeça para outra. “É importante lembrar que piolho não voa, como mosquitos, e nem dá saltos, como pulgas”, diz Júlio.

Praga milenar
Há séculos os piolhos incomodam muita gente. “Já encontramos vestígios desses insetos mesmo em múmias de 10 mil anos”, conta Júlio. “Também na Bíblia há passagens que fazem referência a essa praga milenar.”

No século 19, Carlota Joaquina desembarcou no Brasil com uma espécie de turbante – um amontoado de pano enrolado na cabeça. Adivinha por quê? Porque ela estava com pediculose. A infestação em sua cabeleira era tamanha que, durante a viagem, a princesa teve de raspar a cabeça. E, para disfarçar a careca, inventou de usar o tal turbante. As damas da sociedade colonial de então logo aderiram ao visual, imaginando tratar-se da última moda na Europa. Que nada! Era piolho, mesmo.

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